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Fases do ciclo menstrual: saiba mais

por Dr. Augusto Bussab



"Na mulher, a função reprodutiva acontece de forma cíclica e dois eventos marcam cada um desses ciclos: a ovulação e a menstruação. Por isso, inclusive, o ciclo reprodutivo é chamado também de ciclo menstrual. O ciclo reprodutivo é coordenado por hormônios específicos do sistema endócrino, […]"
Fases do ciclo menstrual: saiba mais

Na mulher, a função reprodutiva acontece de forma cíclica e dois eventos marcam cada um desses ciclos: a ovulação e a menstruação. Por isso, inclusive, o ciclo reprodutivo é chamado também de ciclo menstrual.

O ciclo reprodutivo é coordenado por hormônios específicos do sistema endócrino, o que inclui o GnRH (hormônio liberador de gonadotrofinas) e as gonadotrofinas FSH (hormônio folículo-estimulante) e LH (hormônio luteinizante), todos produzidos por estruturas do sistema nervoso central, além dos hormônios sexuais, de origem ovariana.

Essa dinâmica hormonal tem os ovários e o útero como principais órgãos alvo e tanto a ovulação, quanto o preparo do endométrio para receber um possível embrião, dependem diretamente do equilíbrio hormonal e da integridade física das estruturas envolvidas na função reprodutiva feminina.

Qualquer alteração nessas variáveis pode provocar danos que levam à infertilidade feminina, um fator determinante em cerca de 50% dos casos gerais de infertilidade conjugal.

Este texto mostra como o ciclo menstrual acontece, quais são os eventos de cada fase desse processo e como as alterações podem causar danos à fertilidade das mulheres.

Por que o ciclo reprodutivo é dividido em fases?

As diferentes fases do ciclo reprodutivo são definidas por eventos hormonais e celulares específicos, encadeados sequencialmente e de forma a cada fase estar ligada à anterior.

Como os dois principais órgãos alvo desses hormônios são o útero e os ovários, as diferentes fases do ciclo menstrual podem ser observadas segundo as alterações que ocorrem em cada uma dessas estruturas.

Vamos conhecer um pouquinho de cada fase do ciclo reprodutivo.

Fase folicular ou proliferativa

Tem início com o primeiro dia da menstruação e deve culminar na ovulação, quando tem início a fase seguinte.

É chamada de fase folicular pois nos ovários o principal evento é o recrutamento e amadurecimento dos folículos primários. E também proliferativa, já que a proliferação (multiplicação celular) do endométrio é o principal acontecimento uterino.

Quando a menstruação acontece, a queda nos níveis de progesterona e estrogênio sinalizam ao sistema nervoso central, para que retome a secreção de GnRH e consequentemente de FSH e LH.

Esses hormônios atuam principalmente no recrutamento da reserva ovariana, induzindo os folículos a dar continuidade ao processo de desenvolvimento, estacionado desde o período embrionário, e também iniciar a produção de testosterona e estrogênio.

Enquanto FSH é o principal responsável pelo recrutamento, desenvolvimento e amadurecimento folicular, o LH induz algumas células do folículo ovariano a produzir testosterona, convertida em estrogênio também pela ação do FSH.

Após o fim do período de sangramento menstrual, o endométrio passa a ser restaurado gradualmente, na medida em que a concentração de estrogênio aumenta, já que o principal papel desse hormônio é promover a multiplicação das células endometriais, que conferem um aumento na espessura e na vascularização do endométrio.

A liberação de gonadotrofinas e a conversão da testosterona em estrogênio provocam um aumento também gradual na concentração dessas substâncias, cujo pico máximo induz à ovulação.

Fase ovulatória

Na fase ovulatória ocorre a ovulação, rompimento das células foliculares para a liberação do óvulo contido em seu interior, que se dirige às tubas uterinas onde permanece por aproximadamente 24h. Nesse período a fecundação pode ocorrer, caso a mulher mantenha relações sexuais sem o uso de preservativos de barreira ou contraceptivos.

O rompimento das células foliculares é auxiliado pelo LH, que induz também à formação do corpo-lúteo e à produção de progesterona, um dos hormônios centrais para a última fase do ciclo reprodutivo.

Fase lútea ou secretora

O período compreendido entre a ovulação e a descida do sangue menstrual é chamado fase lútea, pois o principal evento ovariano é a formação do corpo-lúteo, ou secretora, de um ponto de vista uterino.

Nessa etapa, a principal função do corpo-lúteo é a produção de progesterona, cujo papel principal é parar a multiplicação celular resultante da ação estrogênica no endométrio e estabilizar esse tecido, estratificando as novas camadas celulares e melhorando a vascularização uterina.

É importante lembrar que tanto a progesterona quanto os estrogênios também exercem um papel regulador, com função de inibir a produção de GnRH e das gonadotrofinas, que se apresentam em baixas concentrações nessa fase.

Quando a fecundação acontece, o corpo-lúteo mantém a produção de progesterona durante o primeiro trimestre, quando a placenta está desenvolvida o suficiente para realizar essa tarefa.

Contudo, se não há fecundação, o corpo-lúteo involui e a concentração de estrogênios e progesterona decai gradualmente. Quando o rebaixamento na concentração desses hormônios atinge concentrações mínimas, o endométrio passa a descamar e acontece a descida do sangue menstrual.

O que a ausência da menstruação pode significar?

A menstruação é uma das manifestações mais facilmente observadas pela mulher ao longo de seus ciclos reprodutivos, e ausência desse evento pode significar principalmente a presença de ciclo anovulatórios e infertilidade.

Esses sintomas estão presentes em uma série de doenças, que incluem a SOP (síndrome dos ovários policísticos) e a endometriose, especialmente quando afeta os ovários e provoca a formação de endometriomas.

Na SOP, alterações possivelmente relacionadas à baixa secreção de FSH e ao aumento anormal na secreção de LH, fazem com que as células foliculares da teca produzam uma quantidade maior de testosterona, sem que haja FSH suficiente para converter este androgênio em estrogênio.

A diminuição na produção de estrogênios prejudica o processo de espessamento do endométrio e as altas concentrações de testosterona atrapalham o rompimento das células foliculares para a liberação do óvulo, que permanece aderido ao ovário, em forma de cisto.

Nesses casos, a infertilidade acontece por anovulação, porém os danos causados à proliferação do endométrio podem também fazer com que a mulher apresente amenorreia (ausência de menstruação) ou oligomenorreia (quando os ciclos menstruais são menos frequentes)

A endometriose é uma doença estrogênio-dependente, em que o tecido endometrial passa a se desenvolver em outras estruturas fora da cavidade uterina, sendo, por isso, chamado ectópico.

Quando os focos endometrióticos estão aderidos aos ovários, podem levar à formação de cistos avermelhados – diferentes dos cistos da SOP –, que crescem e disparam processos inflamatórios locais, com potencial para causar anovulação e afetar a reserva ovariana da mulher.

Qual é o papel da reprodução assistida?

A reprodução assistida disponibiliza, atualmente, três técnicas para auxiliar casais inférteis a ter filhos, ou com outras demandas reprodutivas, como o que acontece com casais homoafetivos que desejam ter filhos biológicos: RSP (relação sexual programada), IA (inseminação artificial) e FIV (fertilização in vitro).

Entre elas, a FIV é considerada a mais abrangente e com as melhores taxas de gestação, estando por isso entre as principais indicações para o tratamento de casais com problemas associados a alterações no ciclo reprodutivo e no período fértil.

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