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Anovulação e infertilidade: qual a relação?

por Dr. Augusto Bussab



"A fertilidade humana, tanto no corpo masculino quanto no feminino, depende de uma série de fatores para que seja funcional e possibilite a reprodução de forma saudável e efetiva. A delicadeza desses processos – e das estruturas anatômicas envolvidas com a reprodução humana – faz […]"
Anovulação e infertilidade: qual a relação?

A fertilidade humana, tanto no corpo masculino quanto no feminino, depende de uma série de fatores para que seja funcional e possibilite a reprodução de forma saudável e efetiva.

A delicadeza desses processos – e das estruturas anatômicas envolvidas com a reprodução humana – faz com que qualquer alteração possa prejudicar os planos reprodutivos, levando a quadros de infertilidade conjugal.

Dentre os diversos aspectos que influenciam a integridade da fertilidade feminina, a ovulação é uma das mais importantes. A anovulação – ou a falta de ovulação – é uma das principais causas de infertilidade feminina, e normalmente está associada a doenças específicas, como a SOP (síndrome dos ovários policísticos) e a endometriose ovariana.

Neste texto iremos abordar como a anovulação está envolvida com diversos casos de infertilidade feminina, mostrando também o funcionamento do ciclo menstrual e do sistema reprodutivo feminino como um todo, contextualizando as alterações que levam à infertilidade feminina por anovulação.

Acompanhe!

O ciclo menstrual: ovulação e fertilidade

Diferente do que acontece no sistema reprodutivo masculino, a mulher passa periodicamente por uma série de processos bioquímicos e celulares, que compõe aquilo que chamamos ciclo menstrual ou reprodutivo. Essas mudanças se repetem periodicamente e incluem diversas alterações hormonais e físicas, com objetivo de preparar todo o corpo feminino para uma possível gestação.

As transformações durante o ciclo reprodutivo acontecem principalmente no útero e nos ovários. Em geral cada ciclo tem duração de cerca de 28 dias, embora algumas mulheres possam apresentar variações, manifestando ciclos mais curtos ou mais longos, ainda dentro da normalidade.

O ciclo menstrual é controlado pela ação de hormônios hipotalâmicos e hipofisários, produzidos pelo sistema nervoso central, que estimulam a produção dos hormônios ovarianos, produzidos pelos ovários.

Esses hormônios desempenham funções na preparação do endométrio para receber o embrião de uma possível fecundação, além do próprio amadurecimento do folículo ovariano e a ovulação.

A divisão do ciclo reprodutivo em etapas nos ajuda a compreender melhor seu funcionamento e as mudanças tanto de um ponto de vista uterino, principalmente no endométrio, como do ponto de vista ovariano. Vamos nos concentrar em observar as mudanças ovarianas, que estão envolvidas na anovulação.

O ciclo uterino pode ser dividido em duas fases: a ovulatória, que antecede a ovulação, e a fase luteínica, que acontece após a ovulação.

Os ovários são as gônadas femininas, responsáveis por armazenar os folículos com óvulos primários, além de participar da dinâmica hormonal, fornecendo os hormônios sexuais – principalmente estrogênios e progesterona –, sob estímulo das gonadotrofinas FSH (hormônio folículo estimulante) e LH (hormônio luteinizante).

A ação hormonal começa já no período embrionário, com a diferenciação sexual dos embriões e a produção das oogônias, que originam os futuros oócitos (óvulos), por mitose.

Esses óvulos iniciam o processo de meiose, mas permanecem estacionados em uma etapa específica da divisão celular (prófase), envolvidos e protegidos por uma estrutura multicelular denominada folículo.

O ciclo ovariano inicia-se com a liberação do hormônio GnRH (hormônio liberador de gonadotrofinas) pelo hipotálamo, induzindo a glândula hipófise a secretar FSH e LH, que recrutam os folículos e estimulam o desenvolvimento dos óvulos contidos em seu interior. Sob esse estímulo, os próprios folículos passam a secretar estrogênios.

Quando as taxas de estrogênio, FSH e LH aumentam até atingir o pico máximo, o folículo se rompe, liberando o óvulo, num processo chamado ovulação.

O tecido folicular restante se transforma em corpo lúteo, que secreta progesterona e desencadeia a redução dos níveis de LH e FSH, evitando a maturação de um novo folículo enquanto uma possível gravidez ainda estiver em andamento.

Quando não ocorre a fecundação, os baixos níveis de gonadotrofina levam à desintegração do corpo lúteo, e consequentemente à queda nos níveis de estrogênio e de progesterona, o que desencadeia a menstruação, descamação do endométrio em forma de sangue menstrual. Nesse momento o hipotálamo passa a secretar novamente GnRH, iniciando um novo ciclo ovariano.

O período chamado de período fértil, ligado a ovulação, é aquele em que a mulher está mais propensa a engravidar: cerca de 14 dias após o primeiro dia de menstruação, um folículo maduro, contendo o óvulo, se desenvolve o libera para ser captado pelas tubas uterinas.

O óvulo pode ser fecundado em um período entre 24h a 36h após a sua liberação, contudo, como os espermatozoides permanecem vivos no aparelho reprodutivo feminino por cerca 72 horas após a relação sexual, a mulher pode engravidar se tiver relações sexuais nas 72 horas antes da ovulação e até 36 horas depois.

O que é anovulação?

A ausência da ovulação pode ser uma realidade que leva à infertilidade de diversas mulheres, e ocorre quando o óvulo não é liberado pelo ovário. Se a falha ovulatória acomete poucos ciclos reprodutivos, esse quadro é chamado oligovulação. No entanto, se a maior parte dos ciclos reprodutivos não contam com a ovulação, pode ser constatada a anovulação – ausência total de ciclos ovulatórios.

Na maior parte das vezes, a anovulação está ligado a desequilíbrios hormonais, com fatores desencadeantes de diferentes etiologias, com destaque para SOP e para endometriose ovariana, as doenças mais frequentes entre as mulheres com infertilidade por anovulação.

Qual a relação entre anovulação e infertilidade feminina?

A anovulação está diretamente ligada à infertilidade feminina e ao insucesso da gestação por vias naturais.

Isso acontece porque sem a ovulação não há um óvulo maduro a ser fecundado por um espermatozoide, impossibilitando a gestação, inclusive, em algumas técnicas de reprodução assistida, que não são indicadas para os casos de infertilidade por anovulação.

O que pode causar a anovulação?

As causas mais comuns para o desequilíbrio hormonal, que pode resultar em infertilidade por anovulação, são a SOP e a endometriose ovariana, além de alterações no funcionamento da tireoide, tumores hormônio-dependentes e o aumento anormal da prolactina.

A endometriose ovariana provoca o aparecimento de cistos (endometriomas), que tem seu crescimento estimulado pela ação estrogênica e, quando adquirem dimensões maiores, interferem na disponibilidade do estrogênio local, além de pressionar o córtex ovariano.

Enquanto o primeiro aspecto interfere na ovulação, a pressão exercida pelos endometriomas danifica os folículos primários, que ainda não foram recrutados para a ovulação, diminuindo sensivelmente a reserva ovariana.

A SOP também é uma das principais causas de anovulação. Neste caso, a síndrome leva ao aumento da concentração de testosterona ativa nas mulheres, inibindo o amadurecimento dos folículos ovarianos, que permanecem nos ovários formando cistos.

As principais consequências da SOP incluem manifestações hiperandrogênicas como hirsutismo, acne, alopecia e seborreia, além de irregularidade menstrual ou amenorreia e infertilidade por anovulação crônica.

Para mais informações sobre a SOP toque neste link.


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