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Endometrite e falhas de implantação

por Dr. Augusto Bussab



"A endometrite é uma doença uterina muito comum nas mulheres em idade reprodutiva, e que afeta especificamente o endométrio, podendo provocar infertilidade feminina e perdas gestacionais. A maior parte das doenças que afeta o endométrio – como também é o caso dos miomas uterinos e […]"
Endometrite e falhas de implantação

A endometrite é uma doença uterina muito comum nas mulheres em idade reprodutiva, e que afeta especificamente o endométrio, podendo provocar infertilidade feminina e perdas gestacionais.

A maior parte das doenças que afeta o endométrio – como também é o caso dos miomas uterinos e pólipos endometriais – pode gerar danos à função reprodutiva das mulheres, já que esse tecido está diretamente envolvido na gestação e nos processo de implantação embrionária.

O endométrio é uma das três camadas que compõem a parede uterina, assim como o miométrio e o perimétrio. Formado por células glandulares e estromáticas, o endométrio responde aos estímulos hormonais do ciclo reprodutivo, aumentando sua espessura e vascularização, preparando-se para receber um possível embrião.

Qualquer mudança na composição desse tecido pode comprometer a gestação, o que inclui as alterações provocadas por processos inflamatórios e infecciosos, como acontece com a endometrite.

Para compreender melhor a relação entre a endometrite e a infertilidade feminina por falhas na implantação embrionária acompanhe a leitura do texto a seguir.

O que é endometrite?

De forma geral, o termo endometrite se refere a qualquer processo inflamatório, que se instale no endométrio, de forma aguda ou crônica. A endometrite é uma das consequências de DIP (doença inflamatória pélvica), que traz riscos à fertilidade e à qualidade de vida da mulher.

Os casos de endometrite aguda são normalmente decorrentes de lesões mecânicas, como curetagens, partos e procedimentos cirúrgicos no endométrio, lesões químicas, pelo uso de substâncias prejudiciais como espermicidas, e da contaminação com ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) ou outros microrganismos.

Se não for adequadamente tratada a endometrite pode ser tornar crônica, causando, assim, alterações na fertilidade feminina.

Quando a endometrite é infecciosa, além do processo inflamatório – que também acontece nos casos não infecciosos – o endométrio sofre o ataque dos microrganismos, o que potencializa as alterações endometriais e produz sintomas específicos, como corrimento com cor e odor alterados.

A ação do sistema imunológico faz com que o endométrio receba uma carga maior de linfócitos e células NK (natural killer) para o ataque aos agentes agressores, além de sofrer um aumento nas prostaglandinas, alterando a composição química do endométrio.

Embora a ação imunológica tenha um objetivo de defesa do corpo, as alterações típicas do processo inflamatório podem gerar danos e deixar cicatrizes nos locais antes ocupados pelas lesões.

O que é falha na implantação?

Logo após o encontro dos gametas, no interior das tubas uterinas, o embrião ali formado é conduzido por essas estruturas até o interior da cavidade uterina, revestida pelo endométrio. Quando isso acontece durante a janela de implantação, o endométrio está receptivo ao embrião, pronto para sua fixação na superfície desse tecido.

A implantação embrionária acontece em três fases: primeiro o embrião busca um lugar para fixar-se, em seguida há uma aproximação ao local escolhido e por último o rompimento da zona pelúcida embrionária e finalmente a infiltração das células embrionárias na superfície do endométrio. A gestação tem início com o sucesso da implantação embrionária.

Se o endométrio não está apto para receber o embrião, seja por alterações no equilíbrio hormonal, seja por mudanças na composição desse tecido, como acontece na endometrite , a mulher pode perder a gestação por falha na implantação embrionária.

Por que endometrite pode causar falha de implantação embrionária?

A endometrite pode causar infertilidade feminina e perdas gestacionais por falhas na implantação embrionária porque as alterações decorrentes do processo inflamatório, e possivelmente infeccioso, característicos da doença – especialmente o aumento nas prostaglandinas e na concentração de células imunológicas –, podem reconhecer o embrião como um corpo estranho ao endométrio e eliminá-lo como forma de proteção desse tecido.

A mulher que desenvolveu a forma crônica da doença pode passar por perdas gestacionais sequenciais, condição a que chamamos aborto de repetição.

Endometrite tem tratamento?

A escolha da abordagem terapêutica mais adequada deve ser feita sempre com base nos resultados dos exames diagnósticos – laboratoriais e de imagem –, que identificam as causas da endometrite.

Se a endometrite é exclusivamente inflamatória, por ter origem em lesões mecânicas e químicas, o tratamento pode ser feito somente com anti-inflamatórios, cujo objetivo é controlar os sintomas álgicos e conter os sangramentos anormais.

Nos casos em que é causada pela ação microbiana, a única abordagem possível é a antibiótica, podendo ou não ser acompanhada de anti-inflamatórios. Isso porque a erradicação das bactérias é a única forma de interromper o processo infeccioso que está provocando a inflamação.

É importante lembrar que os parceiros devem também passar pela testagem e tratamento, para evitar que o ciclo de contaminação perdure.

Após o tratamento, a mulher deve repetir os exames para verificar a eficácia da terapêutica escolhida.

Qual o papel da reprodução assistida?

Embora o tratamento para endometrite possa resolver a infecção e os sintomas inflamatórios, as abordagens descritas podem não ser suficientes para reverter a infertilidade causada pela doença, especialmente quando a mulher demora para buscar atendimento médico.

Nesses casos, pode receber indicação para reprodução assistida. É valioso lembrar que o tratamento prévio da endometrite também é fundamental para o sucesso da reprodução assistida, já que todas as técnicas prescindem da integridade do endométrio para aumentar as chances de gestação.

Como a endometrite provoca infertilidade por falhas na implantação embrionária, a FIV (fertilização in vitro) é a mais indicada, por permitir um acompanhamento mais rigoroso da receptividade endometrial e também a escolha do melhor momento para que a transferência dos embriões seja feita.

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