O avanço tecnológico, possibilitou que as técnicas de imagem também evoluÃssem e, atualmente, diferentes tipos de doenças podem ser diagnosticadas de forma não invasiva ou minimamente invasiva.
A ressonância magnética está entre elas e hoje é aplicada na rotina diagnóstica de quase todas as áreas da medicina, incluindo a ginecológica. É um exame de imagem não invasivo e de alta resolução, que possibilita uma avaliação detalhada dos órgãos, ossos e tecidos humanos, com segurança e sem exposição a efeitos ou a dor, pois não utiliza nenhum tipo de radiação ionizante.
Para realizar o estudo utiliza um scanner em formato de um tubo com as extremidades abertas, que cria um campo magnético em volta do paciente. A técnica tem sido cada vez mais utilizada na avaliação de mulheres com endometriose, considerada atualmente a doença feminina de maior prevalência no mundo todo e causa comum de infertilidade, permitindo a avaliação da extensão em relação à s possÃveis localizações anatômicas.
Continue a leitura até o final e entenda sobre o uso da ressonância magnética para investigação da endometriose. Confira!
Endometriose
A endometriose é definida como a presença de um tecido semelhante ao endométrio (glândulas endometriais e estroma), que reveste internamente o útero, fora do órgão. Está entre os distúrbios ginecológicos mais comuns registrados em mulheres durante a idade reprodutiva.
Geralmente as lesões estão presentes em locais mais próximos, como o peritônio, membrana que recobre a cavidades pélvica e os órgãos que abriga, os ovários, as tubas uterinas, os ligamentos uterossacros, os ureteres, a bexiga e o intestino.
A presença do tecido anormal provoca um processo inflamatório no local, o que torna a endometriose um risco para a fertilidade dos estágios iniciais, em que as lesões são planas e rasas, aos mais avançados, quando os implantes já invadiram profundamente várias regiões (endometriose infiltrativa profunda) e há a formação de aderências e endometriomas, um tipo de cisto ovariano comum nas mulheres em estágios moderados e graves.
Ainda que sua prevalência exata seja desconhecida, estima-se que de 10% a 15% da população feminina em idade reprodutiva possa ser afetada e que milhões de mulheres no mundo sofram com a doença.
Nos últimos anos, a forma infiltrativa da doença tem sido mais observada. Isso porque, a endometriose é de crescimento lento e tende a ser assintomática nos estágios iniciais. Além disso, é uma doença estrogênio-dependente, ou seja, seu crescimento é motivado pelo hormônio, que atua durante os ciclos menstruais preparando o endométrio para receber um possÃvel embrião formado na fecundação; nessa camada ele se implanta para dar inÃcio à gestação.
Assim, mulheres nulÃparas, que nunca tiveram filhos, por estarem expostas ao hormônio por mais tempo, têm mais risco de desenvolver a doença. O que tem sido bastante frequente nas sociedades contemporâneas, em que há um tendência de adiar os planos de ter filhos.
A endometriose infiltrativa profunda é definida histologicamente como implantes que penetram no espaço retroperitoneal ou na parede dos órgãos pélvicos em profundidade maior ou igual a 5 mm, medida a partir da superfÃcie do peritônio.
O diagnóstico pré-operatório correto é fundamental na definição da melhor estratégia de tratamento da endometriose, que além da infertilidade pode provocar sintomas dolorosos, como dor pélvica crônica ou dor durante a relação sexual (dispareunia), interferindo na qualidade de vida das mulheres portadoras.
Ressonância magnética para pesquisa da endometriose
Dois exames de imagem são usados com mais frequência para identificar e caracterizar lesões da endometriose, ultrassonografia transvaginal com preparo especial e ressonância magnética.
Embora a ultrassonografia transvaginal seja considerado o exame de primeira linha, pois permite avaliar com precisão os órgãos pélvicos, particularmente os reprodutores – útero, ovários e tubas uterinas –, bem como é amplamente disponÃvel, o diagnóstico, em alguns casos, pode não ser claro, tornando a ressonância magnética importante como exame complementar.
A ressonância magnética tem uma grande vantagem por permitir uma pesquisa completa dos compartimentos anterior e posterior da pelve ao mesmo tempo. Assim, tem sido comumente usada para o diagnóstico de endometriomas, da mesma forma que permite a identificação de lesões em estágios iniciais e é uma indicação importante para análise de aderências pélvicas mais extensas ou quando há envolvimentos dos sistemas urinário e intestinal.
Diagnóstico
A endometriose normalmente aparece em três tipos diferentes: endometriose peritoneal superficial, endometriose ovariana (endometrioma) e endometriose profunda. Os locais mais comuns são o peritônio pélvico e os ovários. Porém, essas diferentes formas de apresentação tendem a ter padrões de imagem que podem causar problemas especÃficos de diagnóstico. Assim, vários sistemas de pontuação têm sido usados ​​para avaliar a extensão da doença também em relação a diferentes localizações dentro da pelve.
O mais comum é o proposto pela American Society of Reproductive Medicine (ASRM), em que as lesões são classificadas em quatro estágios de desenvolvimento, do mais leve ao amais grave.
- estágio I (mÃnimo): 1–5 pontos;
- estágio II (leve): 6–15 pontos;
- estágio III (moderado): 16–40 pontos;
- estágio IV (grave): >40 pontos.
Mesmo que esse sistema seja relativamente fácil de usar, não considera o envolvimento de estruturas com endometriose infiltrativa profunda ou os fatores relacionados à infertilidade.
Por isso, em 2014, um evento global com a participação de especialistas de vários paÃses recomendou a incorporação de dois outros sistemas de classificação à s diretrizes da ASRM para todas as mulheres que forem submetidas à cirurgia:
- Enzian-Score: considera a classificação da endometriose profunda a partir do envolvimento de outros órgãos, determinando a severidade e disseminação da doença;
- EFI: considera diferentes fatores relacionados à infertilidade a partir da utilização de um sistema de pontuação. A endometriose pode interferir na fertilidade em todos os estágios de desenvolvimento.
A severidade é avaliada de acordo com o grau de invasão:
- grau 1: invasão < 1 cm;
- grau 2: invasão de 1 a 3 cm;
- grau 3: invasão > 3 cm.
O EFI (endometriosis fertility index) pontua de zero a 10 e o resultado indica as chances de engravidar naturalmente ou após os tratamentos de reprodução assistida de baixa complexidade. Depois de 3 anos, as mulheres com um score de 0-3 têm somente 10% de chance, enquanto aquelas com score mais alto, de 9-10 pontos, têm aproximadamente 75%.
Tratamento e reprodução assistida
O tratamento da endometriose considera a gravidade dos sintomas, inclusive da infertilidade, e o desejo da paciente de engravidar no momento.
Às mulheres que não desejam engravidar e apresentam apenas sintomas mais leves, normalmente são indicados medicamentos hormonais para suspensão da menstruação, minimizando dessa forma a ação do estrogênio, aliviando-os.
Se os sintomas forem mais severos e a mulher desejar engravidar, a cirurgia é indicada para remoção de implantes, aderências ou endometriomas maiores.
A endometriose pode afetar a fertilidade feminina das seguintes formas:
- o processo inflamatório pode comprometer a implantação do embrião, resultando em falhas e abortamento, ou o desenvolvimento e amadurecimento dos folÃculos ovarianos, que contêm o óvulo imaturo, impedindo ou dificultando a liberação do óvulo (ovulação) durante os ciclos menstruais, desde os estágios iniciais;
- os endometriomas, por crescerem no córtex ovariano, região em que ficam armazenados os folÃculos, podem comprometer os que estão localizados ao redor, levando muitas vezes à infertilidade permanente;
- quando atinge as tubas uterinas, o processo inflamatório pode provocar a formação de lÃquidos no interior (hidrossalpinge) ou de aderências. Ambos os casos resultam em obstruções, impedindo a captação do óvulo ou o transporte dos espermatozoides para fecundá-los. A fecundação, fusão dos gametas, acontece nesses órgãos.
Reprodução assistida
Se a endometriose estiver nos estágios iniciais e causar apenas distúrbios ovulatórios mais leves, é indicado o tratamento com a relação sexual programada (RSP), a mais simples das técnicas de reprodução assistida.
Porém, na RSP a fecundação acontece naturalmente, nas tubas uterinas. Por isso, elas devem estar saudáveis, bem como é recomendado que a mulher tenha no máximo 37 anos para utilizar a técnica, uma vez que a partir dessa idade os nÃveis da reserva ovariana, quantidade de folÃculos, têm um declÃnio acentuado.
Mulheres acima dessa idade, com endometriomas menores ou obstruções tubárias podem contar com a fertilização in vitro (FIV), indica ainda quando as abordagens iniciais nãos são bem-sucedidas. Mais complexa, na FIV a fecundação é realizada em laboratório, assim as tubas uterinas não são necessárias no tratamento.
Os embriões formados se desenvolvem por alguns dias, também em ambiente laboratorial, e posteriormente são transferidos diretamente ao útero materno.
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