Entre os principais avanços das técnicas de reprodução assistida (TRA) nas últimas décadas, está a fertilização in vitro (FIV) com ICSI (injeção intracitoplasmática de espermatozoides), que revolucionou o tratamento em pacientes com fator masculino grave de infertilidade. PESA e MESA são dois métodos cirúrgicos para extração de espermatozoides em homens azoospérmicos, uma das principais causas da infertilidade masculina. A azoospermia pode ser obstrutiva e não obstrutiva.
Ambos os métodos são indicados para homens com azoospermia obstrutiva e permitem a recuperação de espermatozoides a partir do epidÃdimo, ducto que atravessam os gametas após serem produzidos pelos testÃculos.
Neste post, vou abordar o funcionamento da PESA e MESA no contexto da FIV, destacando os casos em que os procedimentos são indicados e as respectivas taxas de sucesso.
Azoospermia obstrutiva e não obstrutiva
A azoospermia está presente em aproximadamente 1% de todos os homens e em 15% dos homens inférteis. Pode resultar na ausência de produção de espermatozoides pelos testÃculos (azoospermia não obstrutiva) ou na dificuldade de transportá-los pelo lÃquido seminal em razão de alguma obstrução (azoospermia obstrutiva).
Para determinar a etiologia e o tratamento mais adequado, é necessária uma investigação criteriosa do paciente, com análise de pelo menos duas amostras de sêmen, além do exame fÃsico e dos complementares. Os principais são:
- Espermograma, que analisa caracterÃsticas macro e microscópicas do sêmen, incluindo a qualidade e a quantidade dos espermatozoides;
- Medição dos nÃveis de hormônios como testosterona e hormônio folÃculo-estimulante (FSH);
- Teste genético;
- Raios-X ou ultrassonografia dos órgãos reprodutivos para verificar problemas com a forma e o tamanho, a presença de tumores, bloqueios, ou se a quantidade de sangue está adequada;
- Imagem do cérebro para identificar distúrbios do hipotálamo ou hipófise, que também podem provocar o problema.
Quando o tamanho dos testÃculos e os nÃveis hormonais estão normais, uma biópsia é realizada para saber se a azoospermia, que pode ser classificada em três categorias, é obstrutiva ou não obstrutiva:
- Azoospermia pré-testicular (não obstrutiva) (condição bastante rara): quando os testÃculos são normais, mas não há produção de espermatozoides. Pode ser provocada por baixos nÃveis hormonais, problemas genéticos, distúrbios do hipotálamo ou glândula pituitária, estimulados ​​por tratamentos de radiação e por alguns medicamentos, especialmente os utilizados em tratamentos de quimioterapia;
- Azoospermia testicular (não obstrutiva): quando danos nos testÃculos impedem a produção normal de espermatozoides, o que pode ser ocasionado por diferentes condições, desde infecções no trato reprodutivo, doenças infantis na puberdade, como a caxumba, lesões na virilha, neoplasias e seus tratamentos, varicocele, condições genéticas ou mesmo doenças como o diabetes, cirrose ou insuficiência renal;
- Azoospermia pós-testicular (obstrutiva): problemas com ejaculação ou uma obstrução no trato reprodutivo impedem que o espermatozoide seja transportado para o lÃquido seminal. Ocorre em cerca de 40% dos homens com azoospermia. Pode ser causada por uma obstrução ou ausência de conexão no epidÃdimo, quando o paciente sofreu uma vasectomia, infecções, crescimento de um cisto ou por ejaculação retrógrada – quando o sêmen entra na bexiga em vez de sair pela uretra durante um orgasmo.
O que é PESA e como funciona o procedimento?
PESA (percutaneous epididymal sperm aspiration), em português aspiração percutânea de espermatozoides do epidÃdimo, é um procedimento de baixa complexidade. Prevê anestesia local ou sedação e é realizado em ambiente laboratorial.
A extração dos espermatozoides é feita diretamente do epidÃdimo, com a utilização de uma agulha pequena, conectada a uma seringa, que perfura o ducto para aspirar o lÃquido seminal. Durante o processo de punção é feita uma análise do material coletado. Caso não haja presença de espermatozoides, o procedimento é repetido até que os gametas masculinos sejam encontrados.
O material pode ser utilizado a fresco para fecundação em FIV com ICSI ou pode ser congelado para ser posteriormente utilizado.
Quando a PESA não recupera um número suficiente de espermatozoides viáveis, é realizado, então, a MESA.
O que é MESA e como funciona o procedimento?
A MESA (microsurgical epididymal sperm aspiration), em português aspiração microcirúrgica de espermatozoides do epidÃdimo, foi o primeiro método a ser introduzido. É de maior complexidade, exige anestesia geral e geralmente é realizado em ambiente hospitalar, embora também possa acontecer no ambulatorial.
Para que os espermatozoides sejam extraÃdos, é feita uma incisão na bolsa que envolve os testÃculos e a exposição do epidÃdimo. Em seguida, o túbulo epididimal é dissecado e aberto com uma tesoura microcirúrgica afiada. O fluido é aspirado com auxÃlio de um tubo de silicone ou de uma agulha conectada a uma seringa.
O material também pode ser utilizado a fresco ou congelado. Um único procedimento MESA geralmente permite a recuperação de um grande número de espermatozoides de qualidade.
Quando PESA e MESA são indicadas?
Ambos os procedimentos são indicados para casais inférteis, em que o problema é provocado por fator masculino causado por azoospermia obstrutiva. As indicações também incluem homens que fizeram vasectomia e querem novamente ter filhos.
Fazem parte do tratamento de FIV com ICSI, em que um único espermatozoide previamente selecionado é introduzido dentro do óvulo para que haja a fecundação.
Estudos demonstram que o percentual de recuperação de espermatozoides é bastante expressivo nos dois procedimentos, embora a MESA registre um número maior: 93% em comparação com os 61% da PESA.
Conheça também outra técnica de reprodução assistida com percentuais expressivos de sucesso: a inseminação artificial.
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