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Infecções sexualmente transmissíveis (IST): quais e como podem causar infertilidade?

por Dr. Augusto Bussab



"Entre os fatores que podem provocar a infertilidade, tanto feminina, quanto masculina, estão as infecções sexualmente transmissíveis (IST)."
Infecções sexualmente transmissíveis (IST): quais e como podem causar infertilidade?

É considerado infértil um casal que mantém relações sexuais pelo período de um ano sem a utilização de métodos contraceptivos e, ainda assim, não consegue engravidar. Entre os fatores que podem provocar a infertilidade, tanto feminina, quanto masculina, estão as infecções sexualmente transmissíveis (IST), até bem pouco tempo conhecidas como doenças sexualmente transmissíveis (DST).

A nova terminologia passou a ser adotada por destacar a possibilidade de uma pessoa ter e transmitir uma infecção, mesmo sem sinais e sintomas.

Enquanto o termo doença implica geralmente em sinais e sintomas visíveis, as infeções podem ser assintomáticas por períodos longos, como é o caso de algumas infecções sexualmente transmissíveis (IST). Quando não diagnosticadas e tratadas, evoluem para complicações graves, incluindo a infertilidade.

Neste artigo vou abordar a relação das ISTs com a fertilidade, sobre as taxas de prevalência, formas de prevenção, exames e tratamento.

Taxas de prevalência

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que mais de 350 milhões de novos casos de infecções sexualmente transmissíveis ocorram em todo o mundo, em homens e mulheres, entre 15 e 49 anos. A maioria por clamídia, gonorreia, sífilis e tricomoníase.

Só nos Estados Unidos, por exemplo, os novos dados divulgados pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças americano (CDC), revelaram 2,3 milhões de casos de clamídia, gonorreia e sífilis diagnosticados em território americano em 2017.

A OMS também lista as doenças sexualmente transmissíveis (IST) de maior recorrência no Brasil entre a população sexualmente ativa: 937.000 casos de sífilis, 1.541.800 casos de gonorreia, 1.967.200 casos de clamídia, 640.900 casos de herpes genital e 685.400 casos de HPV.

Infecções sexualmente transmissíveis e infertilidade

O grupo de infecções sexualmente transmissíveis inclui clamídia, gonorreia, HPV (Human Papiloma Vírus), hepatite B, herpes genital, sífilis, cancro mole, donovanose, linfogranuloma venéreo e tricomoníase, além do HIV. Entre elas, clamídia e gonorreia estão associadas diretamente à infertilidade, uma vez que comprometem o sistema reprodutivo.

De 10% a 40% das mulheres com infecção por clamídia e gonorreia não tratada desenvolvem doença inflamatória pélvica (DIP). Ela afeta os órgãos reprodutores femininos (útero, tubas uterinas e ovários).

O dano tubário pós-infecção é responsável por 30% a 40% dos casos de infertilidade feminina. Além disso, mulheres que tiveram doença inflamatória pélvica podem ter até dez vezes mais chances de desenvolver uma gravidez ectópica (tubária), ao mesmo tempo que entre 40% a 50% das gravidezes ectópicas podem ser atribuídas à DIP.

Entre os homens, existem evidências clínicas e patológicas similares, embora mais limitadas. Elas relacionam gonorreia e clamídia a condições como uretrite (inflamação da uretra) e orquiepididimite (inflamação dos testículos e ducto em que ocorre a maturação e armazenamento dos espermatozoides), que figuram entre as principais causas da infertilidade masculina.

A uretrite em homens jovens frequentemente envolve gonorreia e/ou clamídia. A bactéria da gonorreia (Neisseria gonorrhoeae) é encontrada em aproximadamente 20% dos homens com uretrite. Já entre os com uretrite não gonocócica, estima-se que 30% a 50% dos casos sejam associados à Chlamydia trachomatis.

A orquiepididimite também é frequentemente associada a ambas as bactérias por diferentes estudos: presente em cerca de 67% dos homens que foram avaliados, com idade inferior a 35 anos.

Ao mesmo tempo, qualquer IST aumenta as chances de contrair o vírus da imunodeficiência humana (HIV). Em 2017, o número de soropositivos registrados no mundo foi de cerca de 3,9 milhões de pessoas.

Como prevenir as ISTs

A camisinha, segundo a Organização Mundial da Saúde, ainda é um dos métodos mais efetivos para prevenir as infecções sexualmente transmissíveis, quando usada de maneira correta e consistente. Apesar de o preservativo masculino ser o mais popular, o feminino é igualmente eficaz.

O diagnóstico precoce e o tratamento também são estratégias importantes de prevenção.  Por não serem precocemente diagnosticadas e, devido à resistência aos antibióticos, as ISTs tornaram-se mais difíceis de tratar e um problema de saúde pública mundial.

As novas diretrizes da OMS reforçam a necessidade de que o tratamento seja realizado com o antibiótico certo, na dose certa e no momento certo, baseado nos padrões locais de resistência, para reduzir a disseminação e melhorar a saúde sexual e reprodutiva.

Diagnóstico e tratamento

Alguns exames laboratoriais podem identificar a causa e detectar as infecções contraídas. Exames de sangue, por exemplo, podem confirmar o diagnóstico de HIV ou estágios posteriores da sífilis. Os testes laboratoriais realizados a partir de amostras de fluidos e urina, a presença de gonorreia ou clamídia.

O teste de rastreio de infecções sexualmente transmissíveis, realizado quando não há sintomas, é sugerido para todas as idades, de 13 a 64 anos. Mulheres com menos de 25 anos que são sexualmente ativas também devem ser testadas periodicamente para infecção por clamídia e gonorreia.

Os antibióticos, muitas vezes em dose única, podem curar as infecções bacterianas e parasitárias transmitidas sexualmente, incluindo gonorreia, sífilis, clamídia e tricomoníase. Normalmente, gonorreia e clamídia aparecem juntas, por isso deverão ser tratadas ao mesmo tempo.

Já as drogas antivirais podem manter a infecção pelo HIV sob controle por muitos anos, porém não eliminam o vírus.

Sintomas provocados pelas infecções sexualmente transmissíveis

Muitas ISTs não apresentam sinais ou sintomas, o que não impede a transmissão. Por isso, é importante usar proteção, além de visitar o médico regularmente. Veja quais são os sintomas provocados pela gonorreia e clamídia, que indicam a necessidade de procurar um especialista.

Sintomas de gonorreia

Apesar de ser uma infecção genital, a gonorreia também pode afetar boca, garganta, olhos e ânus. Os primeiros sintomas geralmente aparecem dez dias após a exposição. No entanto, algumas pessoas podem permanecer infectadas por meses antes que eles ocorram:

  • Corrimento espesso, opaco ou com sangue, no pênis ou na vagina
  • Dor ou sensação de ardor ao urinar
  • Sangramento menstrual intenso ou sangramento entre períodos
  • Testículos dolorosos e inchados
  • Movimentos intestinais dolorosos
  • Coceira anal

Sintomas de clamídia

Mais difícil de detectar, pois causa poucos ou nenhum sintoma. Quando ocorrem, geralmente começam entre uma e três semanas após a exposição. São suaves e passageiros, por isso, mais fáceis de ignorar:

  • Dor ao urinar
  • Dor abdominal inferior
  • Corrimento na vagina ou pênis
  • Dor durante a relação sexual em mulheres
  • Sangramento entre períodos menstruais
  • Dor testicular

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