Embora muitas pessoas pensem que a infertilidade significa uma total incapacidade para ter filhos, essa definição não é precisa. Diferente da esterilidade, a infertilidade pode ter graus diversos de gravidade, desde a simples dificuldade para engravidar a parceira, até condições mais complexas, em que a gestação só é possÃvel com o auxÃlio das técnicas de reprodução assistida.
A infertilidade masculina, responsável por cerca de 50% dos casos de infertilidade conjugal, pode, assim como a feminina, ser mais ou menos grave. Na maior parte das vezes, essa condição acontece por alterações nos próprios espermatozoides ou bloqueios que impedem que essas células integrem o sêmen.
Os casos mais severos de infertilidade masculina muitas vezes são decorrentes de doenças e condições que afetam a espermatogênese, processo de formação dos espermatozoides , fazendo com que somente seja possÃvel encontrar gametas masculinos em seu local de origem, os testÃculos.
Para isso, a medicina reprodutiva conta com técnicas como a FIV (fertilização in vitro), que dispõe de tecnologias e procedimentos complementares, como a recuperação espermática, capaz de obter espermatozoides diretamente dos túbulos seminÃferos por métodos como a TESE e a Micro-TESE.
No texto a seguir, abordaremos essas duas tecnologias aplicadas à FIV com mais profundidade, mostrando para quais casos são indicadas e detalhes dos próprios procedimentos.
Boa leitura!
Entenda os diferentes nÃveis de gravidade da infertilidade masculina
A infertilidade masculina pode ser uma condição de origem genética hereditária – decorrentes principalmente de microdeleções no cromossomo Y e polissomias, como acontece na SÃndrome de Klinefelter –, mas também como consequência de doenças adquiridas ao longo da vida.
As células reprodutivas masculinas são chamadas espermatozoides e formam-se pelo amadurecimento dos espermatócitos, localizados nas paredes dos túbulos seminÃferos, assim como as células de Leydig e de Sertoli, que atuam diretamente nesse processo.
Após a puberdade, o padrão de secreção do GnRH (hormônio liberador de gonadotrofinas) e das gonadotrofinas LH (hormônio luteinizante) e FSH (hormônio folÃculo estimulante) muda e os hormônios hipofisários passam a estimular a produção de testosterona, principalmente pelas células de Leydig.
É a testosterona que induz o amadurecimento dos espermatócitos em espermatozoides, na espermatogênese.
Após sua formação, essas células seguem para os epidÃdimos, onde desenvolvem a cauda e adquirem motilidade, sendo em seguida conduzidas, pelos ductos deferentes, ao encontro dos lÃquidos glandulares, que formam o sêmen.
A infertilidade normalmente está relacionada à obstrução dos ductos que conduzem os espermatozoides até o sêmen – epidÃdimos e ductos deferentes –, a problemas de regulação hormonal da testosterona e danos aos túbulos seminÃferos, onde o espermatozoide é formado.
Algumas alterações espermáticas não obstrutivas são mais simples de serem resolvidas e podem ser contornadas por técnicas como o preparo seminal, nos tratamentos com reprodução assistida.
Contudo, em alguns casos de infertilidade masculina mais severos, principalmente nos de azoospermia (ausência de espermatozoides no sêmen) não obstrutiva e quando o homem se submeteu à vasectomia e busca atendimento para a reversão da cirurgia após muito tempo, o preparo seminal não é suficiente para conseguir espermatozoides viáveis, dificultando a coleta de gametas masculinos.
Nesses casos, é necessário um diagnóstico preciso sobre as condições da espermatogênese para que seja possÃvel escolher a técnica de recuperação espermática mais adequada para cada caso.
Principais diagnósticos de infertilidade masculina
De forma geral, a infertilidade masculina é uma consequência das seguintes doenças, alterações e procedimentos:
- Azoospermia (obstrutiva e não obstrutiva);
- Astenozoospermia (poucos espermatozoides com motilidade preservada);
- Teratozoospermia (muitos espermatozoides com alterações morfológicas);
- Oligozoospermia (baixa concentração de espermatozoides no sêmen);
- Varicocele;
- ISTs (infecções sexualmente transmissÃveis);
- Prostatite;
- Epididimite;
- Vasectomia.
As alterações na morfologia, concentração e motilidade dos espermatozoides não são consideradas formas graves de infertilidade e, nesses casos, é possÃvel coletá-los com uma amostra de sêmen obtida por masturbação, dispensando a recuperação espermática.
Quando a infertilidade é decorrente de ISTs, normalmente se manifesta como azoospermia obstrutiva, em função das cicatrizes deixadas pelos microrganismos especialmente nos epidÃdimos. Azoospermia obstrutiva também é o quadro provocado pela vasectomia, quando o homem busca essa cirurgia.
A varicocele e algumas condições genéticas, no entanto, não provocam obstruções, mas também produzem um quadro de azoospermia, que se origina em danos à espermatogênese.
A recuperação espermática normalmente é indicada para os casos de azoospermia, obstrutiva ou não, já que nessas situações não é possÃvel encontrar, e consequentemente coletar, espermatozoides no lÃquido ejaculado.
O que são os procedimentos de TESE Micro-TESE?
TESE e Micro-TESE são técnicas de recuperação espermática, que buscam células reprodutivas diretamente no cordão espermático e testÃculos, respectivamente, indicadas para os casos de infertilidade masculina grave.
- Ambas são cirurgias abertas, minimamente invasivas e que podem ser realizadas na própria clÃnica, normalmente fazendo uso de anestesia local, embora alguns casos possam ser feitos com anestesia geral, em ambiente hospitalar.
Essas técnicas de recuperação espermática buscam realizar uma biópsia do tecido testicular, para encontrar espermatozoides diretamente de seu local de origem, os túbulos seminÃferos. Por ser um procedimento cirúrgico, é feita uma incisão simples na bolsa escrotal, para que os testÃculos sejam expostos.
Enquanto na TESE (testicular sperm extraction) o tecido é coletado a olho nu, na Micro-TESE (microsurgical testicular sperm extraction) o procedimento é auxiliado por um microscópio e, por isso, indicada para os casos mais graves.
Ainda que sejam bastante semelhantes, os resultados da Micro-TESE são mais bem sucedidos, especialmente nos casos de azoospermia não obstrutiva, em que a produção dos espermatozoides está prejudicada, pois permite uma coleta mais seletiva e precisa.
Como TESE e Micro-TESE são utilizadas no contexto da reprodução assistida?
A recuperação espermática por TESE e Micro-TESE pode ser utilizada na FIV (fertilização in vitro), e o momento ideal para o procedimento é indicado pelo monitoramento ultrassonográfico da primeira etapa: a estimulação ovariana.
Como na FIV a fecundação acontece em laboratório, a recuperação espermática deve ser realizada simultaneamente à coleta de gametas femininos, que é feita por aspiração folicular.
Após a recuperação espermática, o tecido testicular coletado é enviado para o preparo seminal e em seguida os espermatozoides selecionados são encaminhados para a etapa de fecundação.
Leia mais sobre esses métodos tocando neste link.
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