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Síndrome de Asherman: o que é?

por Dr. Augusto Bussab



"A síndrome de Asherman é uma condição que afeta a cavidade do útero. Os termos síndrome e doença são comumente utilizados como sinônimos, mas não o são. Existem diferenças entre esses dois conceitos: a palavra síndrome é usada para caracterizar um conjunto de sinais e […]"
Síndrome de Asherman: o que é?

A síndrome de Asherman é uma condição que afeta a cavidade do útero. Os termos síndrome e doença são comumente utilizados como sinônimos, mas não o são. Existem diferenças entre esses dois conceitos:

  • a palavra síndrome é usada para caracterizar um conjunto de sinais e sintomas que podem ter diferentes causas, mas nem sempre a etiologia é identificada;
  • as doenças se diferenciam das síndromes porque, em geral, apresentam causas conhecidas, fisiopatologia específica, sinais e sintomas bem estabelecidos e alterações anatômicas e/ou funcionais.

Entretanto, as síndromes costumam ter apresentações clínicas similares às de uma ou mais doenças, mesmo que as causas não sejam bem elucidadas. No caso da síndrome de Asherman, os sinais e sintomas incluem amenorreia (ausência de menstruação), dor pélvica e infertilidade feminina, além de levar a abortamentos.

Para explicar o que é síndrome de Asherman, primeiramente precisamos falar sobre sinequia uterina. Continue a leitura e entenda!

O que é sinequia?

Sinequia é uma aderência de tecido que se forma a partir do mecanismo biológico de reparação tecidual. Para simples entendimento, é uma cicatriz resultante de traumas, cirurgias, infecções e lesões reacionais e inflamatórias em geral.

A sinequia uterina, em específico, é uma aderência de tecido endometrial. O endométrio, por sua vez, é o revestimento interno da parede do útero, onde ocorre a fixação do óvulo fertilizado para dar início à gravidez.

Lesões no endométrio podem causar a formação do excesso de tecido conjuntivo fibroso, caracterizando uma sinequia uterina. Essas lesões decorrem de traumatismos intrauterinos secundários a procedimentos como curetagem pós-aborto ou pós-parto, cesariana e cirurgias para correção de anormalidades estruturais (mioma submucoso, pólipo, septo etc.).

A endometrite — uma inflamação no endométrio provocada por infecções microbianas — também pode desencadear a formação de sinequias.

O que é síndrome de Asherman?

A síndrome de Asherman é uma alteração na cavidade do útero, caracterizada pela presença abundante de sinequias. Formam-se, então, pontes de tecido cicatricial que anexam uma parede uterina à outra, ocluindo quase totalmente o espaço intracavitário.

Uma sinequia isolada e assintomática não é classificada como uma doença, mas o excesso de sinequias pode obliterar a cavidade uterina e até o canal cervical, manifestando alterações menstruais (ausência do fluxo ou sangramento muito reduzido), infertilidade, aborto de repetição e dor pélvica crônica.

O diagnóstico da síndrome de Asherman é feito a partir de exames de imagem — ultrassonografia pélvica, histerossonografia, histerossalpingografia e vídeo-histeroscopia ginecológica.

Com a confirmação da síndrome, é definida a abordagem de tratamento, que geralmente requer intervenção cirúrgica para restaurar a anatomia intrauterina, normalizar o fluxo menstrual e melhorar a fertilidade da paciente.

Infertilidade e síndrome de Asherman: qual a relação?

A síndrome de Asherman está associada à infertilidade feminina por duas razões. A primeira delas é a superfície endometrial reduzida, de forma que o embrião não consegue a implantação para iniciar a gestação.

Outro problema é a dificuldade de expansão da cavidade uterina. Ainda que algum embrião consiga se fixar no endométrio, as pontes de tecido cicatricial ocupam o espaço intrauterino que seria necessário para o desenvolvimento fetal, o que resulta em abortamento.

Felizmente, existem possibilidades de tratamento. A abordagem de escolha para a remoção do tecido cicatricial presente na síndrome de Asherman é a vídeo-histeroscopia. O procedimento cirúrgico é feito por via vaginal, com a introdução de um instrumento (histeroscópio) capaz de iluminar a cavidade uterina e transmitir as imagens para um monitor de vídeo, permitindo que a operação seja realizada com eficiência e segurança.

Como a reprodução assistida pode ajudar?

O tratamento cirúrgico tem boas chances de restaurar a fertilidade espontânea da paciente. No entanto, os casos mais graves apresentam taxas de recidiva e mau prognóstico reprodutivo.

A reprodução assistida tem importante papel no tratamento de pacientes inférteis com síndrome de Asherman. A fertilização in vitro (FIV) é a técnica com maiores chances de sucesso quando a mulher apresenta infertilidade causada por alterações uterinas.

A FIV é feita com uma sequência complexa de procedimentos clínicos e laboratoriais. Primeiramente realiza-se o bloqueio dos hormônios para impedir que a ovulação aconteça antes do esperado. Então, são administrados medicamentos que estimulam os ovários da paciente a desenvolverem um bom número de óvulos, os quais são aspirados e coletados para a fertilização em laboratório.

No dia da coleta dos óvulos, o parceiro da paciente também passa por procedimentos na clínica de reprodução assistida. Uma amostra de sêmen é colhida por masturbação e submetida à técnica de preparação seminal, com a finalidade de utilizar na fertilização somente os espermatozoides com boa morfologia e motilidade.

Em seguida, a fecundação acontece em placas de cultivo, em ambiente laboratorial. Os espermatozoides são colocados em contato com os óvulos para que se aproximem e os fertilizem. A partir disso, os embriões que se formam permanecem em incubadora por pelo menos 3 dias e, finalmente, são transferidos para o útero da paciente.

Mesmo que seja uma técnica avançada, a mulher precisa ter feito o tratamento cirúrgico da síndrome de Asherman antes de passar pela FIV, para remover as sinequias e restaurar o espaço intrauterino. Caso contrário, não há chances de evolução da gravidez.

Leia também o texto sobre infertilidade feminina e veja quais outras condições podem interferir nas chances de concepção!


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