A sÃndrome de Asherman é uma condição que afeta a cavidade do útero. Os termos sÃndrome e doença são comumente utilizados como sinônimos, mas não o são. Existem diferenças entre esses dois conceitos:
- a palavra sÃndrome é usada para caracterizar um conjunto de sinais e sintomas que podem ter diferentes causas, mas nem sempre a etiologia é identificada;
- as doenças se diferenciam das sÃndromes porque, em geral, apresentam causas conhecidas, fisiopatologia especÃfica, sinais e sintomas bem estabelecidos e alterações anatômicas e/ou funcionais.
Entretanto, as sÃndromes costumam ter apresentações clÃnicas similares à s de uma ou mais doenças, mesmo que as causas não sejam bem elucidadas. No caso da sÃndrome de Asherman, os sinais e sintomas incluem amenorreia (ausência de menstruação), dor pélvica e infertilidade feminina, além de levar a abortamentos.
Para explicar o que é sÃndrome de Asherman, primeiramente precisamos falar sobre sinequia uterina. Continue a leitura e entenda!
O que é sinequia?
Sinequia é uma aderência de tecido que se forma a partir do mecanismo biológico de reparação tecidual. Para simples entendimento, é uma cicatriz resultante de traumas, cirurgias, infecções e lesões reacionais e inflamatórias em geral.
A sinequia uterina, em especÃfico, é uma aderência de tecido endometrial. O endométrio, por sua vez, é o revestimento interno da parede do útero, onde ocorre a fixação do óvulo fertilizado para dar inÃcio à gravidez.
Lesões no endométrio podem causar a formação do excesso de tecido conjuntivo fibroso, caracterizando uma sinequia uterina. Essas lesões decorrem de traumatismos intrauterinos secundários a procedimentos como curetagem pós-aborto ou pós-parto, cesariana e cirurgias para correção de anormalidades estruturais (mioma submucoso, pólipo, septo etc.).
A endometrite — uma inflamação no endométrio provocada por infecções microbianas — também pode desencadear a formação de sinequias.
O que é sÃndrome de Asherman?
A sÃndrome de Asherman é uma alteração na cavidade do útero, caracterizada pela presença abundante de sinequias. Formam-se, então, pontes de tecido cicatricial que anexam uma parede uterina à outra, ocluindo quase totalmente o espaço intracavitário.
Uma sinequia isolada e assintomática não é classificada como uma doença, mas o excesso de sinequias pode obliterar a cavidade uterina e até o canal cervical, manifestando alterações menstruais (ausência do fluxo ou sangramento muito reduzido), infertilidade, aborto de repetição e dor pélvica crônica.
O diagnóstico da sÃndrome de Asherman é feito a partir de exames de imagem — ultrassonografia pélvica, histerossonografia, histerossalpingografia e vÃdeo-histeroscopia ginecológica.
Com a confirmação da sÃndrome, é definida a abordagem de tratamento, que geralmente requer intervenção cirúrgica para restaurar a anatomia intrauterina, normalizar o fluxo menstrual e melhorar a fertilidade da paciente.
Infertilidade e sÃndrome de Asherman: qual a relação?
A sÃndrome de Asherman está associada à infertilidade feminina por duas razões. A primeira delas é a superfÃcie endometrial reduzida, de forma que o embrião não consegue a implantação para iniciar a gestação.
Outro problema é a dificuldade de expansão da cavidade uterina. Ainda que algum embrião consiga se fixar no endométrio, as pontes de tecido cicatricial ocupam o espaço intrauterino que seria necessário para o desenvolvimento fetal, o que resulta em abortamento.
Felizmente, existem possibilidades de tratamento. A abordagem de escolha para a remoção do tecido cicatricial presente na sÃndrome de Asherman é a vÃdeo-histeroscopia. O procedimento cirúrgico é feito por via vaginal, com a introdução de um instrumento (histeroscópio) capaz de iluminar a cavidade uterina e transmitir as imagens para um monitor de vÃdeo, permitindo que a operação seja realizada com eficiência e segurança.
Como a reprodução assistida pode ajudar?
O tratamento cirúrgico tem boas chances de restaurar a fertilidade espontânea da paciente. No entanto, os casos mais graves apresentam taxas de recidiva e mau prognóstico reprodutivo.
A reprodução assistida tem importante papel no tratamento de pacientes inférteis com sÃndrome de Asherman. A fertilização in vitro (FIV) é a técnica com maiores chances de sucesso quando a mulher apresenta infertilidade causada por alterações uterinas.
A FIV é feita com uma sequência complexa de procedimentos clÃnicos e laboratoriais. Primeiramente realiza-se o bloqueio dos hormônios para impedir que a ovulação aconteça antes do esperado. Então, são administrados medicamentos que estimulam os ovários da paciente a desenvolverem um bom número de óvulos, os quais são aspirados e coletados para a fertilização em laboratório.
No dia da coleta dos óvulos, o parceiro da paciente também passa por procedimentos na clÃnica de reprodução assistida. Uma amostra de sêmen é colhida por masturbação e submetida à técnica de preparação seminal, com a finalidade de utilizar na fertilização somente os espermatozoides com boa morfologia e motilidade.
Em seguida, a fecundação acontece em placas de cultivo, em ambiente laboratorial. Os espermatozoides são colocados em contato com os óvulos para que se aproximem e os fertilizem. A partir disso, os embriões que se formam permanecem em incubadora por pelo menos 3 dias e, finalmente, são transferidos para o útero da paciente.
Mesmo que seja uma técnica avançada, a mulher precisa ter feito o tratamento cirúrgico da sÃndrome de Asherman antes de passar pela FIV, para remover as sinequias e restaurar o espaço intrauterino. Caso contrário, não há chances de evolução da gravidez.
Leia também o texto sobre infertilidade feminina e veja quais outras condições podem interferir nas chances de concepção!
A gravidez é um processo complexo, que envolve diferentes elementos, por isso é comum várias dúvidas surgirem durante a tentativa de engravidar. Termos como gônadas, gametas, embrião, mórula, blastocisto, fecundação, nidação e eclosão, por exemplo, são frequentemente utilizados em referência ao processo, por profissionais de […]
Ler mais...