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Espermograma e alterações seminais

por Dr. Augusto Bussab



"As alterações espermáticas estão mais intimamente ligadas aos quadros de infertilidade masculina do que as alterações do sêmen, já que estão relacionadas com a quantidade e a qualidade dos espermatozoides presentes no esperma."
Espermograma e alterações seminais

A avaliação da infertilidade masculina está ligada diretamente à análise de cada um dos componentes do sêmen, que incluem os espermatozoides e os líquidos produzidos pelas glândulas anexas. O exame laboratorial que realiza essa avaliação é o espermograma.

A importância do espermograma reside principalmente no fato de que a sua metodologia permite uma análise individualizada de cada um dos componentes do sêmen, fornecendo informações mais precisas, inclusive sobre a saúde do sistema reprodutivo como todo.

O sêmen é composto por quatro elementos principais, três deles referem-se aos líquidos produzidos pelas glândulas anexas – próstata, vesículas seminais e glândulas bulbouretrais –, e o quarto elemento são os espermatozoides.

No entanto, outras células e partículas podem ser encontradas no sêmen, pelo espermograma, incluindo leucócitos, que indicam a presença de infecções ativas, e espermatócitos (células que originam os espermatozoides), que podem indicar alterações na espermatogênese.

O espermograma permite também avaliação de dados como o pH do sêmen, importante fator protetivo para os espermatozoides e determinado pela composição dos líquidos glandulares, assim como a cor e a viscosidade, cujas alterações podem estar relacionadas a problemas prostáticos.

Esse texto aborda como espermograma pode evidenciar uma série de alterações seminais que afetam a fertilidade dos homens e por que esse exame é tão importante para o diagnóstico e tratamento da infertilidade masculina.

O que é espermograma?

O espermograma é um exame laboratorial muito conhecido pelos homens que acompanham sua saúde reprodutiva de forma regular, especialmente para aqueles que apresentam casos de infertilidade na família.

A partir de uma amostra de sêmen coletada por masturbação, é possível observar cada um dos parâmetros que compõem o esperma de forma individualizada e detalhada, permitindo a identificação de alterações, tanto sobre os aspectos macroscópicos, quanto sobre os microscópicos.

A azoospermia, por exemplo, é uma das causas mais comuns para o diagnóstico de infertilidade masculina e consiste na ausência de espermatozoides no líquido ejaculado. Essa condição pode ser causada por problemas na espermatogênese, como acontece na varicocele, ou por obstruções (azoospermia obstrutiva) nos canais pelos quais os espermatozoides passam, incluindo os casos de uretrite.

Outras formas de danos aos espermatozoides compreendem também as falhas que prejudicam sua motilidade (astenozoospermia) e malformações morfológicas (teratozoospermia), que também são identificadas por esse exame.

O espermograma é um exame capaz de identificar diversos quadros de alterações espermáticas, uma das principais causas da infertilidade masculina, sendo por isso central na investigação nesses casos.

O espermograma também pode detectar alterações relacionadas à composição química dos líquidos glandulares, que podem indicar problemas principalmente relacionados à saúde da próstata, como um pH menos alcalino ou uma taxa de liquefação alterada.

Além da sua importância para avaliação da qualidade do sêmen e da fertilidade em si, as alterações evidenciadas pelo espermograma também podem ser determinantes para a escolha de quais exames adicionais devem ser realizados, para que um diagnóstico preciso leve ao tratamento adequado.

Assim, por sua abrangência e simplicidade, o espermograma é um exame fundamental para o delineamento de qualquer diagnóstico preciso de infertilidade masculina.

Quais são os parâmetros seminais normais?

Os resultados obtidos pela análise do sêmen realizada no espermograma devem ser comparados com os parâmetros internacionais estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde, que definem os valores normais para avaliação de cada aspecto, como podemos observar:

  • Cor e aspecto: esbranquiçado e viscoso;
  • Tempo de liquefação ≤ 60 minutos;
  • Volume: ≥ 1,5 ml por ejaculação;
  • pH: ≥ 7,2;
  • Concentração: ≥ 15 milhões/ ml;
  • Motilidade progressiva (espermatozoides que se movem e se deslocam): ≥ 32%;
  • Motilidade não progressiva (espermatozoides se movem, mas não se deslocam): ≥ 40%;
  • Morfologia (integridade da forma do espermatozoide): ≥ 4% de células ovais;
  • Vitalidade: ≥ 58% de espermatozoides vivos;
  • Concentração de células redondas e de leucócitos: ≤ 1 milhão por ml.

O que o espermograma identifica?

O espermograma pode indicar uma série de alterações no sêmen ou a ausência delas.

Alterações do sêmen

As principais alterações seminais evidenciadas pelo espermograma incluem a diminuição no volume do sêmen (hipospermia), que podem mostrar problemas no funcionamento das glândulas anexas como um todo, e mudanças no tempo de liquefação, que podem estar ligadas a problemas prostáticos.

Variações no pH do sêmen também podem indicar tanto alterações relacionadas à próstata, quando o esperma se mostra mais alcalino que o normal, como a presença de infecções ativas, quando mais ácido.

Alterações espermáticas

As alterações espermáticas estão mais intimamente ligadas aos quadros de infertilidade masculina do que as alterações do sêmen, já que estão relacionadas com a quantidade e a qualidade dos espermatozoides presentes no esperma.

Algumas das alterações espermáticas que podem ser identificadas pelo espermograma são:

  • Azoospermia: ausência de espermatozoides no líquido ejaculado;
  • Oligozoospermia: concentração de espermatozoides abaixo do normal;
  • Astenozoospermia: problemas relacionados à motilidade dos espermatozoides;
  • Teratozoospermia: a maior parte dos espermatozoides apresenta problemas morfológicos;
  • Necrozoospermia: baixa porcentagem de espermatozoides vivos;
  • Leucocitospermia: alta concentração de leucócitos na amostra seminal;

Todas as alterações seminais afetam a fertilidade masculina?

Nem todas as alterações evidenciadas pelo espermograma significam que existe um quadro de infertilidade masculina. A maior parte das alterações não espermáticas do sêmen não tem potencial para afetar a função reprodutiva.

Contudo, quando os espermatozoides se mostram anômalos, seja porque sua motilidade parece prejudicada, seja por problemas relacionados a sua morfologia e concentração no líquido ejaculado, essas alterações podem indicar a possibilidade de que a função reprodutiva esteja comprometida.

Muitas vezes, o espermograma é o primeiro de uma sequência de exames que tem como objetivo chegar a um diagnóstico preciso que justifique os problemas reprodutivos apresentados, podendo ser seguido de outros procedimentos, como o teste de fragmentação do DNA espermático, que avalia problemas genéticos relacionados à infertilidade.

Por que o espermograma é útil para a reprodução assistida?

Quando o casal afetado por infertilidade conjugal por fator masculino decide recorrer às técnicas de reprodução assistida para ter filhos, o espermograma é fundamental para direcionar a escolha dos procedimentos mais adequados para cada caso.

A IA (inseminação artificial), uma técnica de baixa complexidade, pode ser indicada para os casos de alterações espermáticas leves.

A indicação deve-se ao fato de que a inseminação artificial permite que a amostra de sêmen utilizada seja submetida a um processo de preparo seminal, que tem como objetivo selecionar os espermatozoides mais saudáveis dentre aqueles que apresentam anomalias.

Para os casos de infertilidade masculina causada por azoospermia, obstrutiva ou não obstrutiva, a principal indicação é a FIV (fertilização in vitro), já que esta técnica permite a coleta de espermatozoides por punção diretamente nos testículos ou nos epidídimos, mesmo que o número de gametas disponível nessas regiões seja relativamente baixo.

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