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Endometriose no peritônio

por Dr. Augusto Bussab



"As mulheres têm um período de fertilidade limitado, o que é chamado de idade fértil ou reprodutiva. Isso porque, ao contrário dos homens que produzem espermatozoides durante toda a vida, desde a puberdade, elas já nascem com uma reserva ovariana, termo que descreve a quantidade […]"
Endometriose no peritônio

As mulheres têm um período de fertilidade limitado, o que é chamado de idade fértil ou reprodutiva. Isso porque, ao contrário dos homens que produzem espermatozoides durante toda a vida, desde a puberdade, elas já nascem com uma reserva ovariana, termo que descreve a quantidade de folículos, que contêm os óvulos imaturos, presentes nos ovários.

A fase reprodutiva das mulheres inicia na puberdade, com a primeira menstruação, quando começam os ciclos menstruais, e finaliza na menopausa, com a última, quando já não há mais folículos disponíveis.

Durante esse período, diversas doenças podem afetar a capacidade reprodutiva, dificultando ou impedindo a gravidez. A endometriose é uma das mais frequentemente registradas atualmente no mundo todo, tem como característica o crescimento de um tecido semelhante ao endométrio, que reveste o útero internamente, em locais ectópicos, ou seja, fora do órgão.

A presença desse tecido anormal causa um processo inflamatório, responsável pela manifestação de diversos sintomas dolorosos, que afetam a qualidade de vida das mulheres portadoras, bem como pode resultar em infertilidade. A endometriose é, inclusive, apontada hoje como a principal causa da infertilidade feminina.

O peritônio está entre os locais que o tecido anormal pode se desenvolver. Continue a leitura até o final e saiba mais sobre a endometriose peritoneal. Confira!

Peritônio e endometriose

Peritônio é a membrana que reveste a cavidade pélvica e os órgãos nela abrigados, incluindo, nesse caso, os reprodutores, útero, ovários e tubas uterinas.

O útero é preparado a cada ciclo menstrual para receber um possível embrião. Na primeira fase, o estrogênio, torna o endométrio mais espesso e vascularizado, enquanto na última, a progesterona finaliza o processo. Nessa camada uterina o embrião se implanta para dar início à gestação.

Por outro lado, se não houver fecundação o endométrio descama, originando a menstruação e um novo ciclo menstrual.

A teoria mais aceita pela ciência para justificar o desenvolvimento da endometriose é a da menstruação retrógada, quando o sangue retorna pela tubas uterinas em vez de ser expulso pelo útero, carregando, nesse caso, os fragmentos do endométrio que deveriam ser eliminados junto com a menstruação. Assim, as células se implantam em outros locais.

O primeiro local geralmente afetado é o peritônio, esse tipo da doença é conhecido como endometriose superficial, pois as lesões ainda são planas e rasas localizadas apenas nessa membrana, ou seja, não se infiltraram nos órgãos. À medida que se desenvolve, entretanto, tende a se infiltrar e invadir mais profundamente os órgãos cujo peritônio foi afetado.

No entanto, mesmo nos estágios iniciais a endometriose pode provocar sintomas, inclusive infertilidade. O processo inflamatório consequente da presença do tecido anormal pode, por exemplo, comprometer a receptividade do endométrio, intervalo em que se encontra adequado para receber o embrião, levando a falhas na implantação e abortamento.

Além disso, pode interferir no processo de desenvolvimento e amadurecimento dos folículos, impedindo a liberação do óvulo ou ovulação, ou na qualidade deles. Dessa forma, a fecundação não acontece, quando o espermatozoide o penetra para gerar a primeira célula do futuro ser humano.

O tecido anormal pode se apresentar no peritônio de qualquer órgão presente na cavidade pélvica interferindo com sua função, principalmente nos casos em que se infiltram, tipo de endometriose conhecido infiltrativa profunda.

Quando isso acontece nas tubas uterinas, por exemplo, pode levar a distorções na anatomia, cuja consequência são obstruções que impedem igualmente a fecundação, que acontece nessas estruturas, responsáveis ainda pelo transporte dos gametas (óvulos e espermatozoides) e do embrião formado ao útero para se implantar.

Assim, mesmo quando está presente apenas no peritônio, a endometriose pode causar diferentes alterações na fertilidade, bem como infiltrar mais profundamente os órgãos, o que aumenta a gravidade, levando à maiores consequências para saúde reprodutiva e geral.

Além da infertilidade outros sintomas podem alertar para possível presença da endometriose, especialmente quando ela está em estágios mais avançados, o principal é a dor pélvica, percebida particularmente pelo aumento na intensidade das cólicas menstruais, que se tornam crônicas com a permanência da doença, ocorrendo inclusive fora dos períodos menstruais.

Dor durante a relação sexual e mudanças nos hábitos urinários e intestinais podem ainda estar presentes quando a doença afeta a bexiga e o intestino.

Observar os sintomas e procurar um especialista se houver suspeita da doença é importante para que o diagnóstico seja feito precocemente, aumentando, assim, as chances de sucesso dos tratamentos: na maioria dos casos, os sintomas podem ser aliviados e a gravidez obtida se houver infertilidade.

A endometriose presente apenas no peritônio, entretanto, tende a ser assintomática. Mulheres que não estão tentando engravidar, por exemplo, podem descobrir a doença apenas quando os sintomas se manifestam, geralmente em estágios mais avançados.

Diagnóstico e tratamento da endometriose no peritônio

O principal exame realizado para diagnosticar a endometriose é a ultrassonografia transvaginal com preparo especial, que possibilita a identificação de praticamente todos os tipos. Apesar da alta sensibilidade, o exame muitas vezes não consegue identificar os focos presentes apenas no peritônio, por isso, se os resultados forem inconclusivos, a ressonância magnética pode ser solicitada.

Mulheres com endometriose no peritônio que desejam engravidar podem contar com auxílio da reprodução assistida. A gravidez pode ser obtida com tratamentos realizados com a relação sexual programada (RSP), mais simples das técnicas, ou fertilização in vitro (FIV), mais complexa, indicadas de acordo com cada caso.

A RSP geralmente é indicada para mulheres com até 35 anos, idade em que os níveis da reserva ovariana ainda estão altos, nos casos em que a doença provoca distúrbios de ovulação. As tubas uterinas também devem ser permeáveis, sem nenhum obstrução, pois a fecundação acontece naturalmente, como na gestação espontânea.

A FIV, por outro lado, reproduz etapas importantes da gravidez em laboratório, como a fecundação, precedida da coleta e seleção dos melhores óvulos e espermatozoides, e o desenvolvimento inicial dos embriões, posteriormente transferidos diretamente ao útero materno.

Antes da transferência o endométrio pode ser preparado por medicamentos hormonais, minimizando, dessa forma, falhas na implantação, que também são atenuadas com a seleção dos melhores gametas, uma vez que a sua qualidade interfere igualmente na do embrião, que quando têm a saúde comprometida não conseguem se implantar.

Dessa forma, é a principal opção quando a endometriose provoca falhas na implantação e abortamento, para mulheres acima de 36 anos, com baixos níveis de reserva ovariana, ou mesmo se houver obstrução tubária consequente da doença, uma vez que os órgãos não têm nenhuma função no tratamento.

Siga o link e conheça em detalhes todos os tipos de endometriose, interferências que podem provocar na fertilidade e tratamentos mais indicados.


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