A idade da mulher e algumas doenças que afetam principalmente a reserva ovariana podem ser determinantes para que o casal receba o diagnóstico de infertilidade feminina, que só pode ser revertido muitas vezes com a fertilização de óvulos obtidos por doação.
Desde a primeira resolução do Conselho Federal de Medicina, de 1992, com intuito de regulamentar a prática da reprodução assistida no Brasil, a doação de gametas e embriões é permitida, embora somente posteriormente o órgão tenha estipulado idades máximas para que homens e mulheres doem seus gametas.
A faixa etária em que é permitida a doação de gametas foi reformulada na resolução mais recente do CFM, 2.294, DE 27 de maio de 2021:
- Mulheres até 37 anos podem ser doadoras de óvulos;
- Homens até 45 anos podem ser doadores de espermatozoides.
As diferenças na idade máxima em que homens e mulheres podem doar seus gametas são determinadas por fatores, que visam proteger tanto doadores quanto receptores, baseados nas diferenças da própria fisiologia reprodutiva de homens e mulheres.
A diminuição da reserva ovariana, comum nas mulheres com mais de 37 anos, é, por exemplo, um dos aspectos que deve ser considerado. Acompanhe a leitura do texto e entenda melhor em que situações a mulher pode ser doadora de óvulos e os motivos das restrições a esse procedimento, em alguns casos.
Boa leitura!
O que é reserva ovariana?
É durante o perÃodo embrionário, antes do nascimento da mulher, que se formam todas as células reprodutivas com as quais poderá contar durante a vida reprodutiva. Esse estoque limitado de folÃculos e óvulos é chamado reserva ovariana.
Com a puberdade, algumas mudanças na secreção dos hormônios sexuais fazem com que essas células passem a ser recrutadas para completar seu processo de desenvolvimento dando inÃcio aos ciclos menstruais ou ciclos reprodutivos, quando a mulher pode engravidar.
A cada ciclo reprodutivo cerca de 1000 folÃculos são recrutados, porém apenas um completa o processo de desenvolvimento e amadurecimento e é liberado para as tubas uterinas, onde pode ser fecundado.
Essa dinâmica faz com que a reserva ovariana seja mais intensamente consumida a partir da menarca (primeira menstruação), e quando a mulher se aproxima da menopausa, seu potencial reprodutivo – proporcional à reserva ovariana – mostra-se sensivelmente rebaixado.
Além da diminuição da reserva ovariana, a idade também pode trazer instabilidade genética aos óvulos que restam nos ovários, aumentando as chances para o nascimento de bebês com doenças genéticas, inclusive não hereditárias, ou para eventos como falhas na implantação do embrião e consequente abortamento.
Os espermatozoides, ao contrário, são produzidos por toda a vida do homem a partir da puberdade, embora percam da mesma forma em qualidade a partir dos 40 anos.
A determinação do limite de idade para a doação de óvulos e espermatozoides, portanto, visa principalmente prevenir a formação de embriões com problemas genéticos.
Como posso doar óvulos?
É relevante mencionar a importância da FIV (fertilização in vitro) no contexto da doação de óvulos, já que nesses casos só é possÃvel conseguir a gestação pela técnica, por ser a única técnica que permite realizar a fecundação em laboratório.
Atualmente, o CFM permite a doação de óvulos em dois contextos: a doação compartilhada e a doação voluntária.
Doação compartilhada
A doação compartilhada acontece sempre entre mulheres que estejam em tratamento com a FIV e normalmente uma delas depende exclusivamente da doação de óvulos para conseguir a fecundação.
Nesses casos, tanto os óvulos quanto os custos do próprio tratamento são compartilhados entre os casais, mantendo as regras gerais que envolvem a doação de gametas e embriões:
- Preservação do anonimato entre doadora e receptora;
- Proibição de qualquer carácter comercial ou lucrativo com a doação;
- Busca por doadora com fenótipo semelhante ao da receptora;
- Busca por doadora imunologicamente compatÃvel com a receptora.
Os óvulos que serão compartilhados são coletados na etapa de punção folicular da FIV e encaminhados para seleção e doação, não demandando qualquer procedimento extra além do previsto na técnica.
Ao mesmo tempo, a mulher que recebe os óvulos não passa pela etapa de estimulação ovariana, mas deve ter seu preparo endometrial monitorado e, se necessário, estimulado por medicação à base de hormônios, como estrogênios e progesterona.
Doação voluntária
A doação de óvulos pode ser feita também de forma totalmente voluntária, sem que a doadora esteja necessariamente passando por tratamento para reprodução assistida.
Para isso, a mulher que procura a clÃnica com intenção de doar seus óvulos deve passar por uma entrevista, em que são considerados principalmente dados como a idade e histórico de saúde, incluindo doenças genéticas e infecções sexualmente transmissÃveis (ISTs).
Se aprovada como doadora, a mulher dá inÃcio, então, aos procedimentos necessários para a doação: estimulação ovariana e indução da ovulação, punção folicular e preparo seminal.
A estimulação ovariana é feita com administração de medicamentos hormonais, principalmente à base de análogos do GnRH e das gonadotrofinas, durante alguns dias, a partir do primeiro dia do ciclo menstrual.
Essa etapa é monitorada por ultrassonografia, que indica o momento em que os folÃculos atingiram o auge do processo de amadurecimento e podem ser coletados. A coleta de folÃculos é realizada por aspiração folicular, um procedimento simples, que pode ser feito na própria clÃnica. Posteriormente os óvulos são extraÃdos e selecionados.
Simultaneamente os espermatozoides são capacitados por técnicas de preparo seminal para a seleção dos mais saudáveis.
O que é a FIV (fertilização in vitro)?
A FIV é uma técnica de reprodução assistida de alta complexidade, em que a fecundação acontece fora em ambiente laboratorial, e os embriões conseguidos são posteriormente selecionados e transferidos para o útero.
Esta técnica é indicada para diversas demandas reprodutivas, que incluem infertilidade masculina e feminina, atendimento de casais homoafetivos que desejam ter filhos biológicos e para a preservação da fertilidade, por motivos de tratamento oncológico ou quando existe o desejo de adiar a maternidade.
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